sábado, 7 de junho de 2008

O Legado Templário nas Lojas Maçónicas

  • O Legado Templário nas Lojas Maçónicas



    O relacionamento havido entre a Ordem do Templo e a cultura dos povos árabes, judeus e cristãos ortodoxos Orientais do Império Bizantino, proporcionou aos Cavaleiros Templários uma visão do mundo mais alargada, mais moderna e mais consentânea com a realidade deste, até então, limitada ao cristianismo católico romano, que durante a Idade Média, não admitia qualquer outro conhecimento que fosse divergente do que preconizavam os doutores da Igreja, e quem arguisse sobre este conhecimento, corria sérios riscos de sofrer os suplícios da Santa Inquisição.

    Todavia, mesmo o conhecimento do sagrado, pode ter várias interpretações, pelo menos, a do Iniciado, que conhece os mistérios, e a do profano, que observa os símbolos sem conhecer o seu significado. Pelo que com os alicerces submersos neste princípio, pensa-se que o conhecimento Templário se dividia numa sabedoria exotérica e numa sabedoria esotérica. Estando este último saber, apenas reservado a alguns membros da Ordem do Templo e, muito provavelmente, a membros que integravam uma Ordem Interna, dentro da Ordem Externa, que sob juramento de absoluto sigilo e de obediência cega, em rituais secretos, obtinham a sua filiação. Aliás, até é muito provável, que alguns membros desta restrita Ordem Interna tivessem sido Iniciados nas escolas de mistério do Oriente, onde por certo, lhes foi revelada a sabedoria secreta do passado, que muito contribuiu, tanto para o saber Templário nas diversas disciplinas do conhecimento, como para a sua vocação de grandes mestres construtores.

    Na verdade, o conhecimento secreto recebido da cultura do Médio Oriente, permitiu aos Cavaleiros Templários interiorizar que construir significava muito mais do que edificar uma estrutura, uma vez que construir significa ter a capacidade de gerar espaços e lugares que propiciam a união da Terra ao Céu, o que faz com que através da construção, o Homem se ligue ao Divino e ao Sagrado, formando deste modo a unidade. Pelo que os Cavaleiros Templários tiveram a interiorização e o conhecimento necessário para compreender os valores harmónicos que emanam de uma construção religiosa e, em particular, os valores harmónicos que emanam de uma Catedral gótica.

    Porém, não é necessário sermos Iniciados nos mistérios dos Cavaleiros Templários, para sentirmos o sagrado de uma Catedral gótica, uma vez que este emana tanto nas suas dimensões e volume, como emana da sua bizarra decoração, ou da luz filtrada que a jorros é projectada para o seu interior.

    Na verdade, nos seus Estados, os Cavaleiros Templários ficaram conhecidos, tanto como disciplinados guerreiros, como por grandes construtores, dado que nos seus Estados souberam dinamizar e providenciar a construção de muitos castelos fortificados, portos, pontes, estradas, celeiros e moinhos, bem como alojamentos para as suas tropas, estábulos e oficinas e até fundaram povoações, que viriam a transformar-se em cidades históricas, como por exemplo: foi o caso das cidades de Tomar e Castelo Branco. Aliás, diversas ruínas situadas no Sul da Europa e na Palestina demonstram ainda hoje, porque razão os Cavaleiros Templários eram conhecidos como grandes engenheiros construtores e porque eram conhecidos também por “Fratres Salomonis”.

    Assim, por consequência dos Cavaleiros Templários terem dirigido os trabalhos de construção nas mais variadas obras públicas, ou simplesmente por terem exercido a função de Mestres com funções de supervisão destas obras, com a inerente competência de instrução dos Aprendizes maçons. Muitos destes Cavaleiros receberam também a Iniciação de Companheiros maçons, tornando-se por consequência, tanto Cavaleiros Guerreiros, como Companheiros da Arte Real. Como prova concreta desta dualidade de qualidades, temos o facto de na cidade de Metz, ter havido uma fraternidade de maçons que se reunia na Comendadoria dos Templários.

    Por outro lado, sabe-se que pelo facto dos obreiros da Arte Real estarem ao serviço desta Ordem, recebiam como contrapartida, o reconhecimento de serem artesãos de mestres francos, ficando por isso isentos de muitos impostos, ao mesmo tempo que gozavam de imunidades, que lhes permitia viajar e exercer livremente o seu ofício, o que naquela época acontecia com frequência e ciclicamente, tanto por motivo de guerras, como de pestes, ou outros flagelos, o que fazia com que muitas construções fossem interrompidas.

    Assim, por consequência do livre trânsito destes maçons entre os diversos Estados da Europa, permitiu que os Companheiros da Arte Real ganhassem o nome de franc-maçons, ou de pedreiros livres, cujas associações, confrarias, ou grémios destes acabaram por ser o alicerce da Maçonaria que hoje conhecemos.

    Na verdade, as Confrarias de Pedreiros tiveram uma estreita ligação com a Ordem do Templo. Não só porque os seus membros acompanhavam os Cavaleiros Templários nas suas construções, como também, porque o seu corpo especializado em construções e fortificações as integrava.

    Assim, por consequência da acção da “Santa Inquisição”, após a aparente dissolução da Ordem do Templo, as Confrarias de Pedreiros foram o abrigo seguro para muitos Cavaleiros Templários. Pelo que a ligação da Maçonaria com a Ordem destes Cavaleiros tem vindo a ser aceite por muitos investigadores, não apenas na qualidade de iniciadora, mas também como depositária das principais tradições.

    Naturalmente, com a evolução dos acontecimentos históricos, todos aqueles que tinham justos motivos para se ocultarem dos rigores da Igreja, juntaram-se aos Maçons, como foi o caso dos Rosacruzes, Alquimistas, Pitagóricos, Astrólogos, Cabalistas... etc.

    Outro marco que regista a influência Templária na Maçonaria, é o facto das Catedrais góticas esconderem na sua arquitectura mistérios que estão muito para além do culto cristão e, os quais estão mais consentâneos com os cultos sagrados pagãos, o que nos leva a supor, que os construtores destes belos Templos de pedra talhada, eram Iniciados nos antigos cultos esotéricos e, deste modo, parece que os obreiros da arte real tinham um evidente relacionamento com os Cavaleiros Templários. Aliás esta hipótese é reforçada, pelo facto da pedra considerada como fundamental em toda a construção de uma Catedral gótica, ser um cubo perfeito, na qual, segundo a lenda, os construtores faziam inscrições misteriosas, orações e desenhos cujo significado era somente do seu conhecimento. Ritual, que nos leva a associá-lo à pedra cúbica dos Templários e dos Maçons

    Na verdade, ainda hoje, podemos encontrar o legado Templário nas Lojas Maçónicas. Ora vejamos: podemos descortinar a cruz pátea, em muitos estandartes e brasões destas Lojas; podemos também ver na decoração destas Lojas os losangos negros e brancos que derivam da bandeira Templária; bem como podemos ver a orla dentada; a bandeira de guerra marítima com a caveira e duas tíbias cruzadas, bem como muitas outras tradições Templárias que impregnam muitos ritos maçónicos, como sejam:
  • No Rito Escocês Rectificado – rito nitidamente ligado à "Tradição Templária" e à "Gnose Cristã", que mais do que um rito maçónico, é um regime coerente e uno da tradição Templária, que culmina na Ordem Interior, designada também como Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa. Aliás, este Rito é aquele que mais próximo está da Maçonaria Operativa de origem Medieval.
  • No Rito Sueco – Toda a maçonaria nórdica que segue este rito, afirma ter a sua descendência nos Templários.
  • No Rito de Menfis-Misraim – Todos os que seguem este rito, também reconhecem a sua proveniência Templária.
  • No Rito de York (Americano) – Os seus Altos Graus, culminam no Grau de Grão Cavaleiro Templário.
  • No Rito Escocês Antigo e Aceite – composto por trinta e três graus e, onde existem vários graus dedicados aos Templários.
  • No Rito Inglês - ou de Emulation, retracta a Lenda Templária.

    Em suma, a Maçonaria não esqueceu a sua origem Templária. Pelo que através tanto dos eus símbolos, lendas, costumes e tradições, honra esse passado lendário.

A Catedral Interior

A Catedral Interior


Se interrogarmos o mais comum dos mortais, para que nos explique o que é uma Catedral gótica? De certo, que ele nos dará como resposta, que uma Catedral é o Palácio de Deus. Mas, se a intensidade da fé desse mortal for imprecisa e pouco segura, então, ele dar-nos-á como provável resposta: que uma Catedral é um lugar destinado à meditação e à oração. Porém, se interrogarmos um herdeiro das herméticas tradições Templárias, provavelmente, responder-nos-á qualquer coisa como: uma Catedral, tanto poderá ser o nosso “Caminho na Terra”, como poderá ser o nosso “Templo Interior”. Pois, tal como aqueles belos livros de pedra rendilhada que furam os Céus, escondem e expõem conhecimentos, também o nosso “Templo Interior” expõe as nossas virtudes, e esconde os nossos erros; mostra as nossas esperanças, e ofusca as nossas decepções. Pelo que o Iniciado consciente da sua Fé, constrói na Terra a sua Catedral Interior para que a sua vida nesta seja correspondente àquela que espera vir a ter nos Céus, e deste modo, o Iniciado parte simbolicamente de Aprendiz, passa por Companheiro, e ao concluir a edificação da sua Catedral Interior, chega finalmente a Mestre.

No contexto medieval, a Catedral gótica também reflectia a imagem de ser o Céu na Terra, dado que oferecia ao crente uma forte impressão do sagrado e do Divino, tanto pelo seu forte simbolismo, que se agarra às paredes, que se esconde nos nichos e que se suspende das abóbadas, como pela majestade e solenidade das imagens dos apóstolos e de Deus a olharem-no de cima para baixo, como que a analisarem o seu verdadeiro carácter. E, tal como a Catedral de pedra, é construída de harmonia com o Verbo e, não por consequência de um qualquer racionalismo, também nós erguemos a nossa Catedral interior na mais pura base de uma forte formação moral; nas acções que praticamos no dia a dia; e pela beleza dos nossos pensamentos, os quais poderão conduzir-nos para além do finito, do tempo e do espaço que conhecemos como mortais.

Por outro lado, se a Catedral de Pedra representa nitidamente os dois mundos da vida terrena: o mundo exterior, onde a história da imortalidade é vivenciada na estatuária e nas histórias contadas pelos coloridos vitrais, e o mundo interior, é representado pelo espaço, grandiosidade, silêncio, paz, e pura luz que vem do alto, o sagrado de uma Catedral Interior, está no nosso pensamento, que nos conduz à imaginação de um Universo transcendente, que é o berço de infinitas vidas. Pelo que tal como a Divindade habita na Catedral de pedra, podemos considerar também, que o nosso “Eu” habita na nossa Catedral Interior, em perfeito silêncio e em perfeita harmonia com Esta, e que o mundo exterior a este Templo Interno, é um mundo profano, confuso e cheio de ruido, que nos impossibilita concretizar a nossa verdadeira missão espiritual, enquanto tripulantes desta nave planetária de sucessivas gerações.

Agora, que conhecemos a nossa Catedral Interior, entremos na nossa câmara de reflexão, pelo holograma da porta da Deusa, à semelhança e imagem da porta que nos permitiu entrar nesta nave planetária, para que o nosso recolhimento espiritual seja meditativo e primordial, tal como o faríamos no interior da Catedral de pedra. Pois, tal como naquela, quando entramos na nossa Catedral Interior, para além de suspendemos a confusão dos nossos pensamentos, suspendemos também o turbilhão dos nossos apegos e dos nossos anseios, e neste estado de pureza e de leveza absoluta, preparamo-nos para aumentar a pequena Luz que habita no nosso “Eu”, uma vez que é quando com sinceridade nos entregamos à meditação e à reflexão, que aquela pequena e tímida Luz que habita no nosso peito, aumenta de intensidade. Essa tímida Luz que conhece os nossos mais íntimos segredos, não tem comparação com outro qualquer fenómeno, uma vez que aquela Luz que se agiganta no nosso coração, que o toma por completo, propaga-se em simultaneidade, tanto ao nosso pensamento, como a todo o ambiente que nos rodeia e envolve, fundindo-se instantaneamente com a Luz que ilumina toda a nave planetária.

Agora que conheces a tua Catedral Interior, quando visitares o teu Templo sagrado, lembra-te desta mensagem, pois estás no palácio de Deus, e por conseguinte, aproveita para purificar o teu pensamento, por forma a que o teu espírito esteja sempre pronto para integrar essa Luz Eterna, que em cada dia nos ilumina com a sua Sabedoria, com a sua Beleza e que nos dá a sua Força, para continuarmos a nossa viagem galáctica que um dia iniciámos, e que nunca chegaremos a ver o seu fim.

sábado, 31 de maio de 2008

O Ventre da Deusa


Poucos são os visitantes duma Catedral gótica, que com um olhar critico e observador, olharam para os portais góticos desses majestosos monumentos da cristandade. Contudo, pelas velhas portas de carvalho já carcomidas pelo tempo, incontáveis gerações de cristãos atravessaram-nas, certamente, imbuídos da mais pura fé. Provavelmente, muitos deles até pararam para apreciar com algum deleite os seus belos frisos de pedra talhada. Todavia, poucos foram aqueles, que conseguiram descodificar o segredo da sua forma ogival. Que sendo arcos de edificações Templárias, na certa, contêm uma mensagem mística e oculta que se destina aos seus Iniciados.A história diz-nos que os Templários foram grandes devotos do feminino. A literatura de ficção fala-nos de ritos carnais e obscenos entre os dois sexos. Contudo, tanto a história como a literatura dizem-nos que a devoção que os Templários nutriam pela mãe de Jesus Cristo, Maria, era muito profunda, o que não nos surpreende, uma vez que encontramos nesta devoção, muitas semelhanças com a devoção prestada a Maria pela Ordem de Cister, sobretudo, pela figura do abade S. Bernardo, que foi o grande inspirador da Ordem do Templo, e também o grande divulgador do culto Mariano. Assim, através desta conotação podemos deduzir, que a Ordem do Templo nutria também uma grande simpatia pelo culto Mariano e, por sua vez, ao culto da Grande Deusa. Sendo esta a razão, porque aqueles grandes Senhores de manto branco representaram nos pórticos das Catedrais góticas, a parte mais intima da Deusa, a sua vulva.
Na verdade, o culto da Virgem é um dos arquétipos mais fortes de toda a história da humanidade. Desde os mais remotos tempos, que existe uma relação prototípica entre a Virgem e a Lua. Essa Virgem-Lua, que no contexto teológico cristão, dá pelo nome de Maria, e no contexto gnóstico, dá pelo nome de Maria Madalena. Mas, que tanto num contexto, como no outro, é aquela que reflecte e difunde na Terra a luz mística do Cristo-Sol.Por outro lado, as "Deusas" e as “Virgens” mediante um processo de sincretismo, todas elas descendem da Grande Mãe. E, as inscrições contendo explicitamente o nome de Isis, numa estátua da “Virgem”, que fora descoberta na Catedral de São Estevam, em Metz, eliminam qualquer dúvida sobre a correspondência entre Maria e a Grande Mãe. Aliás, a própria Catedral de Chartres, uma das Catedrais góticas mais conhecidas no mundo cristão, tal como muitas outras Catedrais cristãs dedicadas à Virgem Maria, ou à outra Maria, foram erigidas num local de peregrinação consagrado à Grande Deusa, antes do cristianismo. Pelo que em Chartres, continua a ser homenageada a Virgem e Mãe, só que, em vez de se chamar Ísis, Ceres,Tara, Deméter ou Ártemis, tem o nome de Maria, ou seja, a Grande Deusa assume uma miríade de nomes. E, para reforçar esta metamorfose, Maria tal como as anteriores grandes Deusas, manifesta também uma ligação arquetípica com a água, o precioso líquido da vida e do baptismo. Aliás, todos os cultos relacionados com a Grande Mãe, invariavelmente, estão relacionados com os poderes regeneradores da água. Para além destes arquétipos e lendas atribuídas às “Deusas”, estas ainda estão associados ao arquétipo feminino da fecundação, o qual desde os tempos pré-históricos está muito associado à fecundidade da terra. Daí as “Virgens” ou as “Deusas” serem geralmente representadas com uma criança ao colo e, muitas delas apresentarem a cor da terra.

Em termos Alquímicos, as “Virgens Negras” simbolizam a matéria no seu estado primordial, uma vez que nessa velha ciência, a cor preta é considerada a primeira fase da Grande Obra, por corresponder ao estado de fermentação, de putrefacção e de ocultamento. Enquanto que a cor branca, pelo contrário, corresponde à iluminação e à elevação espiritual. Pelo que as estátuas da Virgem Maria eram tidas pelos Templários como simples objecto de devoção, enquanto que para estes Iniciados, as imagens de Maria Madalena representavam o princípio cósmico da criação e da regeneração da vida.Todavia, o culto prestado à Grande Deusa em muitas Catedrais góticas, não se deve essencialmente à influência Templária, como foi o caso da Catedral de Chartes, acima mencionado, deve-se também ao facto de nas localidades onde foram construidas as Catedrais já se praticar há muito o culto à Grande Deusa, ou em outros casos por terem sido edificadas sobre antigos lugares de culto a deusas pagãs. Uma atitude que fora corroborada pelo próprio Papa Gregório, que exortou o clero de então a permitir que os aldeões das províncias pagãs recentemente convertidas, pudessem continuar a celebrar as suas antigas festas e erguer imagens em antigos locais de peregrinação onde foram erguidas igrejas cristãs. Aliás, esta foi uma prática constante da Igreja para a cooptação dos povos recém convertidos à fé cristã.
Na verdade, a Catedral gótica, que secretamente se tornou a casa da Grande Deusa, foi edificada de forma a se assemelhar ao ventre desta, por forma a atrair e prender o crente no seu interior, como a chama bruxuleante atrai e hipnotiza o insecto noctívago, pois a luz espectral e policroma dos altos vitrais que irradia para o seu interior, convida-o ao silencio e à oração, predispondo-o à meditação. Portanto, o ventre da Grande Deusa, é o refúgio hospitaleiro de todos os infortúnios. É o asilo inviolável dos perseguidos, e o sepulcro dos nobres e ilustres. É o centro da actividade pública e a apoteose do pensamento do conhecimento e da arte. É a cidade dentro da própria cidade. O seu aspecto abobadado de ventre fecundo, tal como as grutas e as cavernas, simboliza a vida que se dá ao crente em forma de renascimento espiritual. E, com base nesta simbologia, justifica-se qual foi a razão porque os portais das Catedrais góticas foram construídos de forma afunilada, e porque ostentam uma rosácea por cima destes, à semelhança de um clitóris, o único órgão do corpo humano concebido somente para dar prazer, o que torna a rosácea num ornamento pouco católico.
Na verdade, o feminino está sempre latente nestas grandiosas construções sagradas. A grande Rosácea, que espelha e projecta o pôr-do-sol para o interior do Templo, para além de lhe conferir uma luminosidade rubra, que é a cor da perfeição, está sempre rasgada nas fachadas das Catedrais a Ocidente, a direcção tradicionalmente consagrada às divindades femininas. Mas, se dúvidas houvesse ainda quanto ao arquetípico feminino que está associado às Rosáceas, depressa se desvaneceria, uma vez que compôe a grande rosácea aquilo a que se chama de “teia de aranha”, que é uma referência inequívoca à Grande Deusa, na sua plena manifestação de fiandeira e de senhora do destino do homem, o que a transforma em mais um estranho símbolo para um Templo cristão. E, tanto mais quando os mistérios do feminino assentam exclusivamente num conceito carnal, místico e religioso, onde a sua energia e poder provém da sexualidade e a sabedoria do conhecimento da rosa. Rosa que foi também usada pelos trovadores e pelos alquimistas, como anagrama de Eros, ou do amor sexual. Aliás, existe uma lenda atribuida aos Templários que nos diz que “quem ousar erguer o véu de Isis e interpretar com sabedoria e inteligência os seus segredos e mistérios, obterá o baptismo da Sabedoria e será superior em Glória, Poder e Força”. Aliás, os iniciados nos mistérios de Isis reconhecem nesta lenda, a fórmula esotérica muito usada pelos alquimistas espirituais: “A primeira matéria recolhe-se no sexo de Isis”.
Assim, pela magia da vulva, o visitante é atraído ao interior da Catedral gótica, com o respeito que é devido à Grande Deusa. Num profundo silêncio e com disposição à interiorização, de conformidade com o espaço que pisa. Junto a uma pia de água benta, quase sempre representada por uma gigantesca concha octogonal, símbolo da natividade da Deusa, com as pontas dos dedos embebidas nesse precioso líquido da vida, dá inicio ao ritual da água, e com este se purifica, para poder receber a Luz sagrada.